O amor, quando fracassado, pode ser um perigoso caldeirão de emoções, que nos pode levar às profundezas da depressão.
Quando o nosso amado é um manipulador, e passamos a sentir que fomos usados, isso piora ainda mais as coisas.
No meu caso, a ansiedade esteve presente desde o início, e fiquei convencido que era a minha condição física e mental, que me estava a tirar a capacidade de viver o amor. Isso levou também a uma auto-culpabilização, que na realidade não tinha razão de existir.
Passado algum tempo, recuperei, e após alguns conflitos interiores, fui tentar reencontrar o amor perdido. Mas ele já não estava lá para mim. Mesmo assim eu quis vivê-lo! E fiquei a vivê-lo sozinho, a sonhar, a imaginar, a recordar, a lutar.
Esta foi a fase da negação. Uma fase muito dolorosa e violenta, em que nos recusamos a aceitar a realidade. Eu não acreditei.
A seguir existe uma fase de revolta, que já me permitiu refletir racionalmente, e concluir que na realidade estava apaixonado por uma pessoa com defeitos. É egocêntrico, maldoso, tóxico, emocionalmente agressivo, frustrado tanto nós sentimentos, como na realização pessoal. É essencialmente manipulador, o que o leva também à ingratidão.
Como manipulador cria e imagina uma "persona" que não é. Quando encena que se está a preocupar com os outros, ou que preza a amizade, não está mais do que a preocupar-se consigo próprio, ou a exaltar uma virtude, que na realidade não existe nele. A insensibilidade é outra das suas características. É indiferente aos sentimentos dos outros. Isso traz-lhe a incapacidade de amar plenamente. Amor para ele é algo quase telepático, que passa essencialmente por amarem-no a ele, e acederem aos seus caprichos, vontades ou encenações.
Percebi então que fui usado. Foi agressivo e ingrato para mim várias vezes sem pudor. Já de mim, não encontro qualquer razão de queixa que possa ter. E como manipulador, não tendo essa razão de queixa, ele inventa-a, e põe em prática uma encenação em torno disso, sem pudor em envolver terceiros. Acredito que possa fazer tudo de forma inconsciente, mas isso não retira a injustiça e o perigo.
Portanto para ele, na qualidade de manipulador, a minha existência ou presença tornaram-se um incómodo. Talvez por o exporem a uma realidade que não aceita. Isso levou-o a anular-me, ignorar-me, bloquear-me e silenciar-me, de forma a não ser exposto a qualquer sinal da minha existência, e poder de forma mais alheia, prosseguir as suas práticas manipulatórias.
Temo por outras pessoas, a quem possa acontecer, ou esteja mesmo a acontecer o mesmo. Acredito que estará, e sinto-me solidário.
Sei que tudo parece contraditório. Perante tudo isto, como foi possível amar, e tentar reconquistar alguém que age desta forma? Acredito que existe uma explicação no domínio da ciência.
Quando nos apaixonamos acontecem alterações importantes no nosso cérebro, das quais não somos conscientes.
Primeiro muda a nossa química cerebral e portanto os níveis de certos neurotransmissores, como por exemplo a serotonina, oxitocina, dopamina, adrenalina, entre outros.
As mudanças nos níveis destes neurotransmissores explicam porque deixamos de ver os defeitos da pessoa amada, e nos centramos apenas nas suas virtudes, ou inclusivamente as exageramos.
Também explicam o porquê de centrarmos toda a nossa atenção nessa pessoa e de repente passamos o dia todo a pensar nela ao ponto de até nos podermos tornar obcessivos.
Quando vemos a pessoa amada o nosso cérebro inunda-se de dopamina que faz com que sintamos um enorme prazer e bem estar emocional combinado com euforia, o que faz com que queiramos o próximo encontro e esta sensação torna-se um vício devido ao bem estar que nos produz.
O nosso sistema de recompensas(responsável por gerar emoções) que se encontra no sistema limbico é ativado e isso faz com que nos foquemos no nosso objetivo de estar com a pessoa ou encontrar com ela.
Quando se diz que "ao estarmos apaixonados perdemos o juízo" nada mais é do que a mudança nos níveis de oxitocina que inibe a função crítica da nossa razão e isso faz com que deixemos de ver a pessoa amada na sua totalidade, mas vemos apenas aquilo em que nós próprios acreditamos.
Naturalmente, o afastamento fez provavelmente a minha química cerebral voltar ao normal.
Portanto faltava-me ter consciência da realidade, e entrar nesta fase de revolta acompanhada de pena e frustração ao perceber que não existia a pessoa que eu via e imaginava.
Soully Heartty, Novembro 2022
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